quinta-feira, 1 de julho de 2010

E as pedras vão rolar...




Em terras centrais de uma capital, num bairro com nome de santo que fugiu do dinheiro, há túneis subterrâneos que escondem moedas espanholas.

Graças a Zulmiro, meu vizinho. Um pirata esperto, que depois de saquear a coroa da Espanha, acaba naufragando em mares que ainda não sabiam ser Paranaguá.

Não deu outra, saltou, nadou, não largou o saco de ouro e achou o esconderijo perfeito à dezenas de quilômetros do oceano. A Construção de uma Igreja, em meio à duas praças, cheio de jesuítas e índios cuidando do espaço.

Madrugadas profundas abaixo da terra, até garantir a segurança e sigilo que necessitava. Como um pirata habilidoso, também na arte da simpatia, conseguiu mãos voluntárias de escravos e bençãos de padres.

Sabia que seu sorriso multicores e uma moeda em sua mão esticada conquistavam belos bons dias na nascente Curitiba, lá do seu alto São Francisco...

Mesmo depois de escondê-los tão bem que nunca mais encontrou, nem nos túneis que desciam à Paranaguá, ou que desembocavam na futura Praça Zacarias, continuou nas ruas largas da cidade tomando seu Rum e provando os chás indígenas.

Irresistivelmente, a cigana, dos olhos verde-mar e sotaque do ouro que roubou, amaciou as mãos calejadas de Zulmiro. O pirata tentou conquistá-la, mas como ela leu sua sorte, e não o encontrou em seu futuro, foi difícil enamorar-se. Mas a promessa do tesouro fez com que a espanhola, no mínimo, não o espantasse.

Se tiveram filhos, não sei. Se encontraram o tesouro, sei que não, ainda está sob as ruínas de São Francisco.

Protegidas pelas maldições piratas, jesuíticas e indígenas, uma bela rede social, não permitem a invasão dos outros.

Apesar de saber que Zulmiro anda por aí, perto da minha casa, não consegui ainda conversar com ele umas idéias novas de participaçao na escavação que tenho.Enquanto não tomamos esse chá na praça Garibaldi, nem discutimos com as feministas no Belveder, fico na minha.
Pois, sem a proteção do pirata Zulmiro, aquela pedra pronta para cair em quem entra, não me fará bem.

... Tomo meu rum, um gole pro santo, um brinde pro Pirata!

Texto por Gisele Voss (agente de Desenvolvimento Local do bairro)

Crônica-conto baseada nos dados pesquisados na CASA DA MEMÓRIA, na rua São Francisco - Largo da Ordem - Bairro São Francisco

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